Sala de aula: As interações pessoais e as tecnologias no intercâmbio dos saberes, III Encontro de Formação Docente Continuada, Pró-Reitoria de Graduação, Direção Geral de Ensino, ULBRA, Campus Canoas, RS, 27 e 28 de julho de 2010.


As interações pessoais e as tecnologias no intercâmbio dos saberes: ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação


A produção de experiências, experimentos e casos em novas perspectivas da educação envolve considerar os aspectos dinâmicos de ações e interações. Além de desejada, a produção, nessas condições, impõe administrar mudanças internas e sociais.

O registro de experiências, experimentos e casos também envolve escolher e adotar um ponto de vista, e, ainda, aceitar que o outro é livre para aderir à maneira de ver que preferir.

Assim, ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação pode ser visto como processo, além de ser visto como recurso.

O objetivo central deste texto é apresentar uma proposta de utilização e produção contínua de experiências, experimentos e casos para ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação; a partir de um ponto de vista em que se busca organizar e registrar a relação entre processos e recursos, envolvendo educação e tecnologias de informação e comunicação.

O valor da tecnologia na educação

Quando o valor se concretiza na educação, a tecnologia é uma das suas importantes alternativas. Aos olhos de quem aprende, a tecnologia é motivadora, os erros são acomodados como parte do processo, e, a prática reforça os hábitos de estudo.

Aos olhos de quem ensina, a tecnologia envolve desafios; os erros estão sujeitos a avaliação mais rigorosa, e, exige-se "ver os muitos significados e aspectos dos conceitos" (VON KROGH et al., 2001, p. 113).

Objetivamente e como conhecimento acabado, a tecnologia é frequentemente vista como recurso: bases de dados e informações, Internet, computadores, celulares, chips, automóveis e tantos outros "objetos".

Subjetivamente e como conhecimento em movimento, em transformação, a tecnologia pode ter seus aspectos dinâmicos mais bem percebidos. As tecnologias, nesta perspectiva, podem ser vistas, no plural, como processos, estratégias ou circunstâncias, estas últimas como: eventuais, dinâmicas, opcionais ou inesperadas (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 28; MCGONIGAL, 2010).

Boas práticas de pesquisa sugerem relacionar, e até eventualmente buscar "controlar", aspectos estáticos e dinâmicos de conceitos em análise.

Ao explorar alternativas de relação entre circunstâncias, estratégias, processos e recursos, pode-se avançar sobre o conceito de práticas (CHIA, 2004). Práticas são mais que rotinas visíveis e atividades observáveis. São circunstâncias sempre presentes, vitais para que possamos negociar com o mundo que nos rodeia e para atribuir sentido às nossas vidas.

O novo mundo também é virtual

O "mundo que nos rodeia" é mental: "Quando processamos nossas ideias e fazemos relações e combinações de conhecimentos adquiridos". O mundo é físico e social, envolvendo "A interação individual com objetos físicos" e "a interação [...] com outros indivíduos, podendo ou não haver a presença de objetos". O "novo mundo" também é virtual: "A Internet neste início de século XXI tem se revelado um gigantesco ambiente virtual onde as pessoas [...]" utilizam bases de dados e informações, interagem e se comunicam, e, constróem conteúdo (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 121-122).

Informação e comunicação como práticas essenciais

As interações pessoais e as tecnologias no intercâmbio dos saberes também são movimentadas, comunicadas e promovidas a partir da sala de aula. Na sala de aula, é explicitado o processo fundamental de transformação do conhecimento, "[...] e isso pode acontecer também com tecnologias de informação e comunicação" (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 144).

Informação e comunicação poderiam ser, nessas condições, percebidas como circunstâncias sempre presentes. No contexto da economia do conhecimento, envolvendo educação e tecnologias de informação e comunicação, sugere-se adotar informação e comunicação como práticas essenciais, como circunstâncias sempre presentes (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 3).

Acesso à informação pública

Segundo o jornalista e professor Rosental Calmon Alves (In. ANÔNIMO, 2008), o Brasil "carece de uma regulamentação eficaz" no que se refere ao direito de acesso à informação pública. Segundo o mesmo jornalista, entretanto, "a internet estimula a transparência de informações porque torna as consultas mais fáceis e baratas".

Alunos e professores, independentemente de classe social, têm acesso a recursos de Internet, ainda que facilitados apenas por telecentros ou lan houses. Além do auto-apoio, é fundamental avançar em direção ao apoio de necessidades internas mais profundas, tarefa essa que cabe à educação enquanto agência ativa.

Mais que educação em desenvolvimento

Mesmo em países em desenvolvimento, a educação e a qualificação devem ir além do desenvolvimento. Devem ser educação e qualificação no desenvolvimento da comunicação, em desenvolvimento humano, em desenvolvimento local, ou, ainda, em indicadores, como o Índice da Sociedade da Informação (RODRIGUES et al., 2003).

Os desafios atuais envolvem meio-ambiente, diversidade, sustentabilidade, relações sociais e grandes assimetrias, evidenciadas pela facilidade de comunicação e informação em larga escala. A adaptação é exigida, com todo o ônus que envolve.

"[...] os países em desenvolvimento devem impulsioná-lo [o tema da adaptação] mais, porque, se tem algo que é certo é que os países em desenvolvimento, como nós, sobretudo na América Central, serão especialmente afetados por ondas de calor, inundações, mudanças no nível do mar. Os países desenvolvidos têm que apoiar os esforços de adaptação nos emergentes" (LANKAO apud PRIZIBISCZKI, 2009).

A mobilidade é desejável, mas também impõe desafios a tudo e a todos. Estudos de cenários já apontam os impactos de grandes movimentos migratórios dentro de territórios e entre países.

"Será que os povos das regiões mais poderosas do mundo - América do Norte, Ásia e Europa - têm condições intelectuais e emocionais para absorver e amparar o imenso fluxo de pessoas prontas a invadir seus territórios? Ainda não sabemos a resposta. Sabemos, porém, que essas levas humanas estão chegando, e que muitas respostas ainda estão pendentes" (SCHWARTZ, 2003).

A educação é um fator importante da dignidade humana, da articulação social e de todas as categorias de desenvolvimento. A organização, entretanto, precede a educação e favorece seu enriquecimento.

A organização é uma riqueza. Ela converte os indivíduos em atores sociais e faz convergir interesses (TORO, 2006).

Ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação já está apoiado em práticas individuais e sociais, como circunstâncias sempre presentes.

"Ensinar é mais que transmitir informações. [...] o valor envolvido no processo de aprendizagem é o de aprender no sentido de ajudar a aprender e de aprender a aprender (a partir de MAGGI, 2006).

"No relatório editado sob a forma do livro: "Educação: Um Tesouro a Descobrir" de 1999, a discussão dos "quatro pilares" [...] "se propõe uma educação direcionada para os quatro tipos fundamentais de aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser" (Quatro pilares da educação, 2010; Jacques Delors, 2010).

Economia do conhecimento

Na economia do conhecimento, a educação e a qualificação têm seu valor enriquecido por ações e resultados coordenados com o correspondente avanço de sistemas de inovação, de incentivos econômicos e institucionais, e de infraestruturas de informação e comunicação.

Criar, compartilhar e utilizar a educação e a qualificação significa ter cidadãos alfabetizados e contabilizar resultados que incluem diplomas e produção relevante de conhecimento. A partir da Metodologia KAM - Knowledge Assessment Methodology do Banco Mundial, usada "para verificar os avanços dos países na economia do conhecimento" [...], "Educação e qualificação abrangem o atendimento das necessidades para que as pessoas criem, compartilhem e utilizem as competências e habilidades por meio da educação" (BANCO MUNDIAL, 2008).

O valor do conhecimento como premissa de projeto

Um dos principais desafios para os gestores na economia do conhecimento será descobrir o que as organizações precisam saber no futuro.

Segundo KROGH et al. (2001), em vez de apenas investir em soluções de tecnologia da informação, devemos investir no desenvolvimento de valores de relacionamento. Ainda segundo esses autores, "quando os relacionamentos são fortes e positivos, os membros da organização se empenharão na procura de áreas onde se necessite de seus conhecimentos e competências". Boas interações pessoais asseguram a livre disponibilidade de conhecimentos.

É valioso estabelecer uma visão de conhecimento para um projeto ou programa educacional. Visão que norteará as estratégias, processos, circunstâncias e recursos do processo de aprendizagem dos alunos e, também, dos professores.

Um novo mundo ainda desconhecido

Um novo mundo pode envolver novos objetos e significados.

É impensável considerar a possibilidade de registro de todas as alternativas de organização em um contexto tão amplo e diversificado. É recomendável, portanto, adotar a ideia do "livro aberto"; que "está aberto a sugestões, a novas propostas, ao debate e, ainda a mais reflexões" (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 122).

O registro e a produção contínua de experiências, experimentos e casos devem ser promovidos, utilizando tecnologias de comunicação e informação, no sentido de enriquecer, para a sociedade, as possibilidades das interações pessoais e das tecnologias no intercâmbio dos saberes.

Em alguns casos a aula deve ser "aula aberta", reforçando momentos de inteligência e cognição abertos à comunidade, e, envolvendo aspectos sociais como "exposição pública, participação em comunidades específicas, busca e publicação de informações de interesse pessoal e coletivo". A "aula aberta" também deve envolver aspectos econômicos, "associados às atividades profissionais, divulgação de currículos, à compra e venda de bens e serviços, bem como à busca de informações e pesquisas sobre produtos" (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 125; GALLUCCI et al., 2010).

Um novo período de navegações, de práticas e de escolas

Usando a navegação como metáfora e até como método, pode-se apresentar a ideia de um "navegador", organizado a partir de estruturas envolvendo informação e comunicação presentes e comuns a todos, e de processos de ensinar e aprender (LIMA, 2010).

Programas educacionais podem ser repensados a partir de práticas que estão sempre presentes. O "navegador" pode possibilitar ao professor estabelecer rotas (estratégias e processos) envolvendo circunstâncias e recursos de tecnologias de informação e comunicação em suas aulas.

"A Escola de Sagres jamais existiu" (UOL, 2009). "Da prática das navegações, entretanto, ninguém duvida". Escolas, entretanto, seguem se reinventando em "uma infinidade de novos espaços criados pela mente humana que, em conjunto, chamamos de ciberespaço, Internet, ambiente virtual e tantas outras denominações" (CARVALHO; IVANOFF, 2010, p. 3).


Palavras-chave: formação docente continuada, agência em educação, mudanças sociais no Brasil


Keywords: sourcing


Sala de aula: As interações pessoais e as tecnologias no intercâmbio dos saberes, III Encontro de Formação Docente Continuada, Pró-Reitoria de Graduação, Direção Geral de Ensino, ULBRA, Campus Canoas, RS, 27 e 28 de julho de 2010. Disponível em < http://www.ulbra.br/noticiasdoensino/2010/07/encontro-de-formacao-continuada-tem-a-participacao-de-500-professores-da-ulbra-canoas/ >. Acesso em 2 dez. 2010.


ANÔNIMO. Acesso à informação pode gerar conhecimento sobre os processos públicos, 20 fev. 2008. Disponível em < http://www.informacaopublica.org.br/?q=node/172 >. Acesso em 3 jul. 2010.

BANCO MUNDIAL. 2008 KAM Booklet: measuring knowledge in the world economies. Disponível em < http://siteresources.worldbank.org/INTUNIKAM/Resources/KAM_v4.pdf >. Acesso em 19 ago. 2008.

CARVALHO, Fábio Câmara Araújo de; IVANOFF, Gregorio Bittar. Tecnologias que educam: Ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Disponível em < http://www.pearson.com.br/livro.asp?isbn=9788576053675&cod_campanha=&cod_conv=&cod_acesso= >. Acesso em 10 out. 2009.

CHIA, Robert. Strategy-as-practice: reflections on the research agenda. European Management Review, 1, 2004.

GALLUCCI, Laura; FUKUNAGA, Fernando; IVANOFF, Gregorio Bittar. In. TUCUNDUVA, Paola (Org.). Gestão do conhecimento em pequenas e médias empresas. Alma do Negócio. Disponível em < http://programaalmadonegocio.blogspot.com/2010/06/programa-36-gestao-do-conhecimento.html >. Acesso em 26 mai. 2010.

Jacques Delors. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Delors >. Acesso em 15 jul. 2010.

LIMA, Jerônimo. Resenha sobre o livro Tecnologias que educam. Disponível em < http://www.kmbusiness.net/livro_resenha.htm >. Acesso em 3 jul. 2010.

MAGGI, B. Do agir organizacional: Um ponto de vista sobre o trabalho, o bem-estar, a aprendizagem, São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2006.

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PRIZIBISCZKI, Cristiane. A voz dos não desenvolvidos, 07 nov. 2009. Disponível em < http://www.oeco.com.br/copenhague/22848-a-voz-dos-nao-desenvolvidos >. Acesso em 3 jul. 2010.

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RODRIGUES, Georgete Medleg; SIMAO, João Batista; ANDRADE, Patrícia Simas de. Sociedade da Informação no Brasil e em Portugal: um panorama dos Livros Verdes. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 3, Dec. 2003 . Available from < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652003000300011&lng=en&nrm=iso >. access on 03 July 2010. doi: 10.1590/S0100-19652003000300011.

SCHWARTZ, Peter. Cenários: As surpresas inevitáveis. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2003. Tradução: Maria Batista.

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http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=movimento+%22em+educa%C3%A7%C3%A3o%22+%22acesso+%C3%A0+informa%C3%A7%C3%A3o+p%C3%BAblica%22&btnG=Pesquisar

-- GregorioIvanoff - 03 Jul 2010

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