O amanhã II
Ronaldo Lima Lins, voz: Julia Pastore
Disponível em <
http://www.youtube.com/watch?v=nXF1vU275HI > e <
http://www.ronaldolimalins.com.br >. Acesso em 8 mar. 2014.
Se eu nascesse amanhã, arquiteto ou construtor, poeta, pintor ou narrador, faria da Terra um planeta sem rusgas e sem arestas.
Não projetaria para ele um campo de rosas que resistissem aos furacões.
Buscaria a beleza da fragilidade, a ligeireza e a limpidez das cores, a suavidade dos gestos.
Onde houvesse força, desenharia aflições; onde houvesse nação, descobriria gente.
Não reservaria um espaço para o sucesso, para o poder ou para os tempos de glória.
Escreveria a história pelos lados da paixão. Rejeitaria a indiferença, as reservas e a malícia.
Não precisaria de uma paisagem para sustentar sonhos de grandeza e de afirmação retórica.
Montanhas e planícies enfeitariam como aqui os quadros do cenário.
Dinheiro, melhor seria eliminá-lo, se possível junto com a pretensão.
Se eu nascesse amanhã, estenderia um tapete branco para a humildade. A imaginação ocuparia um lugar de destaque, e a sensibilidade venceria da inteligência entre as virtudes do caráter.
Se eu nascesse amanhã, lançaria contra a miséria as armas da infantaria.
Mas se um dia descobrisse que o ontem está no hoje e que ambos se encontram no depois, no rastro do infinito, se me alcançasse a certeza da inutilidade dos projetos, com a derrota de todos os esforços e romantismos, não diria: Chega. Nem: Desisto.
Mesmo que fosse apenas para me enganar, sentaria diante de um piano e, com as notas que ignoro e um talento que não possuo, experimentaria uma multidão de sons contraditórios na execução de uma peça
em busca da harmonia.
Palavras-chave:
sensibilidade,
rotas de navegação,
desenvolvimento
Resultados:
conteúdo para amanhã
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GregorioIvanoff - 08 Mar 2014